Arquitetura é status. Não deveria, mas é. Existem duas vias de se imaginar a arquitetura popular: ou a construção em massa de casas iguais e sem personalidade, ou ideias que tornem a edificação um maravilhoso projeto arquitetônico, mas que também oprime a opinião do ocupante. E então, nós fazemos arquitetura para as pessoas ou para o portfólio dos escritórios?
Ao procurar um arquiteto, os próprios escritórios tem em mente que a arquitetura está ali para mudar vidas, e não necessariamente para apenas suprir os problemas de uma demanda. Arquitetura é estética e funcionalidade. São cinco anos aprendendo sobre conceitos, materiais e como a junção disso tudo resulta em um projeto digno de premiações. Mas até que ponto a arquitetura tem controle sob o imóvel?
No texto "Arquiteto sempre tem conceito, esse é o problema" somos convidados a reflexão sobre a arquitetura atuante em escalas mais populares. Nela temos como exemplo um casal que procura uma arquiteta que aparece com projetos "de revista", mas que eles não se identificam com tal. Devido ao pouco conhecimento, também optam por não pedir alterações, até que o mal estar toma conta dos mesmos e eles optam pela autoconstrução, assim como uma grande maioria de brasileiros, que por vezes acredita que arquitetura é apenas para classes mais abastadas, seguindo esse conceito de projeto "de revista".
Somos levados a refletir até que ponto a arquitetura deve trazer lucro simbólico a um determinado grupo e se não deve apenas ter solucionado determinada situação, ou se aquele grupo procura algum status com a arquitetura. E sei que é complicado dizer isso a estudantes e arquitetos que aprendem todos os dias na academia a idolatrar determinado tipo de arquitetura. Acredito que atitudes como essas, distanciam ainda mais a arquitetura das classes populares.
A arquitetura é tão distante da população mais simples, que até em sua apresentação ela soa distante e complexa - o que por vezes faz com que o cliente não entenda o que está comprando e busque meios menos complexos, com a autoconstrução. Por vezes, a única coisa que a população busca é um local de moradia simples, porém seguro e até mesmo funcional, desde que dentro dos parâmetros que ela espera. Uma casa própria não é como uma roupa que se pode trocar, por vezes a casa própria é a realização do sonho de alguns, e a maior compra que farão na vida.
Desta forma, ressalto que a arquitetura deve ser repensada em sua forma de ensino. Não acredito que será o fim da autoconstrução, mas que a arquitetura pode sim se tornar mais acessÃvel, desde que leve em conta aquele que a utilizará. Devemos abrir nossos horizontes para além de renders e maquetes maravilhosos, e abrir espaço para a participação dos usuários da arquitetura em todo o seu projeto, desde a concepção, a todas as demais escolhas, para que por fim, seja um projeto de fato pensado para ele, desejado por ele, da forma que ele queira, e não que o conceito arquitetônico mande.
Referências:
http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/05_biblioteca/acervo/kapp_nogueira_baltazar.pdf
http://www.solucoesparacidades.com.br/wp-content/uploads/2013/10/AF_SP%20BOX%20HOUSE%20WEB.pdf
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/09.104/2976